segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Boneca russa abrasileirada: Rachel de Queiroz


A principal figura feminista do século XX conquistou a todos não desde Os quinze (1930), mas dos dezenove, quando pôs-se a iniciar sua escrita com esse romance. Seus textos são gritos incontidos que pedem atenção para um Estado que foi esquecido quando o pólo econômico mudou-se para o Sudeste... Ah, meu Ceará! Tu que foste tão castigado e nem sempre notado. Mas a rainha da literatura brasileira fez com que fosses reparado e remediado.Foste ousada quando quis, com reverente maestria, acordar o Brasil, de maneira lúcida e perspicaz, para que fosse enxergado o cenário social que estava instalado no século passado.

O ato impulsivo de escrever aproximava Rachel de João Miguel (1932), que deturpado pelo álcool, não resistiu aos deslumbramentos do instinto assassino humano e rendeu-se aos desejos mais profundos. Ia petrificando, tornando-se mais sólida. À medida que envelhecia, andando por entre Caminhos de pedras (1937) e mesmo com as agruras vividas, continuou a batalha árdua da escrita. No céu estavam as Três Marias, formando o cinturão da constelação de Orion e no Ceará As Três Marias (1939) de Rachel, embelezando os olhos dos leitores mais ávidos pelo que há nas entrelinhas de teus romances.

Nós, o povo nordestino, recusamos a lhe dizer adeus! Recusamos a sofrer teu centenário neste ano de 2010, pois sabemos que estais eternizada nos teus livros e atos. A alma a qual cada um, que saiba da tua importância, está preso se inquieta suplicando que haja uma explosão da tua história, que todos precisam saber das tuas benfeitorias pela literatura e política cearense. Como tu disseste em As menininhas e outras crônicas (1976), somos todos como bonecas russas, ocos, superpostos do que já vivemos, dentro de nós há um eu um pouco menor e dentro desse outro, há outro, e outro... Até que chegamos ao maciço, uma miniatura do que somos e ali está o verdadeiro eu-lírico de cada um! Tu és assim para nós: uma grande boneca russa com uma miniatura bem recheada de coisas a descobrir e reinventar.

Rachel, de onde estás, veja o que teu Menino mágico (1969) fez com os nossos corações! Tornou-os embasbacados, principalmente quando, após dois anos de Dora, Doralina (1975), tu ingressaste na Academia Brasileira de Letras, sendo a primeira mulher a ocupar uma cadeira. Tens idéia da importância de ti em nossas vidas? É com dor que declaro que tua última obra-prima foi Memorial de Maria Moura (1992), eternizando-a na literatura brasileira.

“ Mas o que será de nós, sem Rachel de Queiroz?”